Folha de S.Paulo - Cotidiano - Jovem diz que ninguém ajudou adolescente morta em Higienópolis - 24/10/2012:
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DEPOIMENTO
Foi tudo muito rápido. Vínhamos conversando sobre minha tatuagem, que ela queria retocar pela manhã, e de sua primeira aula de acupuntura marcada para as 9h.
Eles chegaram dizendo "passa a bolsa, passa a bolsa." Foi um susto. Eram dois. Um deles estava armado.
Não reagimos. Apenas tentei puxar Caroline para atrás de mim, escondê-la, mas não deu tempo. Um veio por trás e puxou minha mochila.
O outro ficou agarrado na mochila dela. Ela não queria entregar. "Eu vou atirar, eu vou atirar", dizia ele.
O mais valoroso na mochila, para ela, não eram os celulares. Eram seus desenhos que adorava fazer e seus materiais de escola. Ela adorava estudar. Tinha uma bolsa de estudo do colégio São Luís.
O rapaz encostou a arma e puxou o gatilho. Não tive como reagir. Ele atirou com a arma próxima ao corpo dele. Não esticou o braço. Com certeza ele é um ladrão experiente. Fugiram sem demonstrar nenhum arrependimento.
Caroline caiu. Só tinha um pouco de sangue na boca e um raspão no olho. Nem percebi onde os tiros pegaram. Só fiquei sabendo depois.
Corri para o meio da rua para pedir ajuda. Ninguém parava. Ninguém me ajudava.
Tive de sair da frente dos carros para não ser atropelado. Uma mulher da janela de um prédio gritou que estava chamando socorro.
Tentei fazer respiração boca boca, fazer massagem cardíaca. Ela tinha asma. Tentava não deixá-la apagar de vez.
Passaram-se mais de dez minutos até as pessoas desceram dos prédios. Caroline já estava sem pulsação. Não adiantava mais.
No hospital, ainda ficou numa maca esperando para ser atendida. A médica disse que não poderia atender naquela hora porque a sala estava lotada. Mesmo se tivesse alguma chance, Caroline não teria sido salva no Hospital das Clínicas.
Deveria ser obrigatório os políticos utilizarem o mesmo sistema de saúde que oferecem às pessoas. Eles estão de boa porque não precisam.
'QUE SOFRAM'
Para muitas pessoas que estão no poder, eu sou um lixo. Mas meu propósito sempre foi ajudar as pessoas. Ter uma sociedade melhor.
Caroline pensava da mesma forma. Até por isso a gente se amava. Eu sou muito difícil de me apegar às pessoas. Com ela foi diferente.
Fazia um ano que morávamos juntos. Morávamos de favor na academia Arte Nobre. Sou faixa verde em Kung Fu, ela era vermelha.
Ela veio morar comigo, faz cerca de um ano, para me alimentar. Eu tinha acabado de perder o emprego, estava arrasado, ela usava seu vale refeição. Eram R$ 200 mensais.
Muitas vezes chegava o final no mês e o dinheiro tinha acabado. Ela nunca reclamou. Comia o que eu comia.
Ela não era apegada a coisas materiais. Eu nunca consegui pagar um almoço melhor para ela. Mas Caroline nunca reclamou disso.
A gente viveu o mais simples possível. Ela nunca quis ser algo que não poderia ser. Éramos contra o capitalismo.
Queríamos a faixa preta e montar juntos uma academia em Cascavel, no Paraná, onde moram parentes meus.
A primeira regra da nossa academia é treinar o corpo e o espírito para a paz.
Infelizmente, meu desejo é que aqueles três sofram. Sofram o mesmo que sofro hoje.
Conheci Caroline na Augusta há um ano e meio. Ela estava com a melhor amiga, Beatriz. A mesma que foi cumprimentar na noite de sua morte.
O que me impressionou foi como era responsável apesar da pouca idade. Tinha uma ideia forte que a gente não vê.
A acupuntura era muito importante para ela. Era uma forma de homenagear a profissão e a memória do pai.
Ela também queria ser tatuadora. Desenhava muito bem. Tenho uma tatuagem no peito feita por Caroline. Eu criei a frase, eu gosto de vampirismo, e ela tatuou. Deixei ela treinar no meu corpo. Ela queria retocar pela manhã.
Minha próxima tatuagem será em homenagem à Caroline. Ela tinha uma tatuagem de um símbolo chinês que significa eternidade.
Para mim, ela será eterna.
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
UFC - SiSU - 2012.2 - INGRESSANTE - cadualmeidaadv@gmail.com - Gmail
UFC - SiSU - 2012.2 - INGRESSANTE - cadualmeidaadv@gmail.com - Gmail:
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Prezado(a) estudante,
É com imensa alegria que registro o seu ingresso na Universidade Federal do Ceará neste semestre letivo 2012.2. Desejo que essa nova etapa de sua vida seja de grande aprendizagem e, também, de muitos encontros, diálogos e realizações.
A Universidade Federal do Ceará cresce e se qualifica a cada dia, consolidando uma trajetória cinquetenária de formação, contribuições e avanços no estado do Ceará, e conta agora com a sua efetiva participação nesse processo.
Aproveito para lembra-lo(a) que é necessária e imprescindível a sua confirmação presencial de matrícula, junto à coordenação de seu curso, até o dia 11 de outubro de 2012, para que seu vínculo institucional seja homologado.
Você não precisa solicitar matrícula nas disciplinas do curso. Por ser aluno ingressante, você já foi matriculado nas turmas de 1º semestre pelo SIGAA. Acesse www.si3.ufc.br/sigaa para visualizar suas turmas e horários.
Caso não possua usuário/senha no sistema SIGAA, realize seu auto-cadastro clicando em "Cadastre-se"(Aluno) na página inicial.
Atenciosamente,
Prof. Custódio Almeida
Pró-Reitor de Graduação
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Prezado(a) estudante,
É com imensa alegria que registro o seu ingresso na Universidade Federal do Ceará neste semestre letivo 2012.2. Desejo que essa nova etapa de sua vida seja de grande aprendizagem e, também, de muitos encontros, diálogos e realizações.
A Universidade Federal do Ceará cresce e se qualifica a cada dia, consolidando uma trajetória cinquetenária de formação, contribuições e avanços no estado do Ceará, e conta agora com a sua efetiva participação nesse processo.
Aproveito para lembra-lo(a) que é necessária e imprescindível a sua confirmação presencial de matrícula, junto à coordenação de seu curso, até o dia 11 de outubro de 2012, para que seu vínculo institucional seja homologado.
Você não precisa solicitar matrícula nas disciplinas do curso. Por ser aluno ingressante, você já foi matriculado nas turmas de 1º semestre pelo SIGAA. Acesse www.si3.ufc.br/sigaa para visualizar suas turmas e horários.
Caso não possua usuário/senha no sistema SIGAA, realize seu auto-cadastro clicando em "Cadastre-se"(Aluno) na página inicial.
Atenciosamente,
Prof. Custódio Almeida
Pró-Reitor de Graduação
sábado, 6 de outubro de 2012
DAS MOSCAS DA PRAÇA PÚBLICA
Assim falava Zaratustra:
Foge, meu amigo, para tua soledade! Vejo-te aturdido pelo ruído dos grandes homens e crivado pelos ferrões dos pequenos.
Dignamente sabem calar-se contigo os bosques e os penedos. Assemelha-te de novo á tua árvore querida, a árvore de forte ramagem que escuta silenciosa, pendida para o mar.
Onde cessa a soledade principia a praça pública, onde principia praça pública começa também o ruído dos grandes cômicos e zumbido das moscas venenosas.
No mundo as melhores coisas nada vales sem alguém que as represente; o povo chama a esses grandes homens.
O mundo compreende mal o que é grande, quer dizer, o que cria; mas tem sentido para todos os representantes e cômicos das grandes coisas.
O mundo gira em torno dos inventores de valores novos; gira invisivelmente; mas em torno do mundo giram o povo e a glória: assim "anda o mundo".
O cômico tem espírito, mas pouca consciência do espírito. Crê sempre naquilo pelo qual faz crer mais energicamente - crer em si mesmo.
Amanhã tem uma fé nova, e depois de amanhã outra mais nova. Possui sentidos rápidos como o povo, e temperaturas variáveis.
Derribar: chama a isto demonstrar. Enlouquecer: chama a isto convencer. E o sangue é para ele o melhor de todos os argumentos.
Chama mentira e nada a uma verdade que só penetra em ouvidos apurados. Verdadeiramente só crê em deuses que façam muito ruído no mundo.
A praça pública está cheia de truões ensurdecedores, e o povo vangloria-se dos seus grandes homens. São para eles os senhores do momento.
O momento oprime-o e eles oprimem-te a ti, exigem-te um sim ou um não. Desgraçado! Queres colocar-te entre um pró e um contra?
Não invejes esses espíritos opressores e absolutos, ó! amante da verdade! Nunca a verdade pendeu do braço de um espírito absoluto.
Torna ao teu asilo, longe dessa gentes tumultuosa; só na praça pública assediam uma pessoa com o "sim ou não"?
As fontes profundas têm que esperar muito para saber o que caiu na sua profundidade.
Tudo o quanto é grande passa longe da praça pública e da glória. Longe da praça pública e da glória viveram sempre os inventores de valores novos.
Foge, meu amigo, para a soledade; vejo-te aqui aguilhoado por moscas venenosas.
Foge para onde sopre um vento rijo.
Foge para tua soledade. Viverás próximo demais dos pequenos mesquinhos. Foge da sua vingança invisível! Pra ti não mais que vingança.
Não levantes mais o braço contra eles!
São inumeráveis, e o teu destino não é ser enxota-moscas!
São inumeráveis esses pequeninos e mesquinhos; e altivos edifícios se têm visto destruídos por gotas de chuva e ervas ruins.
Não és uma pedra, mas já te fenderam infinitas gotas. Infinitas gotas continuarão a feder-te e a quebrar-te.
Vejo-te cansado das moscas venenosas, vejo-te arranhado e ensanguentado, e o teu orgulho nem uma só vez se quer encolerizar.
Elas desejariam o teu sangue com a maior inocência; as suas almas anêmicas reclamam sangue e picam com a maior inocência.
Mas tu, que és profundo, sentias profundamente até as pequenas feridas, e antes da cura já passeava outra vez pela tua mão o mesmo inseto venenoso.
Pareces-me altivo demais para matar esses glutões; mas repara, não venha a ser destino teu suportar toda a sua venenosa injustiça!
Também zumbem à tua roda com os seus louvores. Importunidades: eis os seus louvores. Querem estar perto da tua pele e do teu sangue.
Adulam-te como um deus ou um diabo! Choramingam diante de ti como de um deus ou de um diabo. Que importa?
São aduladores e choramingam, nada mais.
Também sucede fazerem-se amáveis contigo; mas foi sempre essa a astúcia dos covardes. É' verdade; os covardes são astutos!
Pensam muito em ti com a alma mesquinha. Suspeitam sempre de ti. Tudo o que dá muito que pensar se torna suspeito.
Castigam-te pelas tuas virtudes todas.
Só te perdoam verdadeiramente os teus erros.
Como és benévolo e justo, dizes: "Não têm culpa da pequenez da sua existência". Mas a sua alma acanhada pensa: "Toda a grande existência é culpada".
Mesmo que sejas benévolo com eles, ainda se consideram despreparados por ti e pagam o teu benefício com ações dissimulados.
O teu mudo orgulho contraria-os sempre, e alvorotam quando acertas em ser bastante modesto para ser vaidoso.
O que reconhecemos num homem infamamo-lhe também nele Livra-te, portanto, dos pequenos.
Na tua presença sentem-se pequenos, e sua baixeza arde em invisível vingança contra ti.
Não notaste como costumavam emudecer quando te aproximava deles, e como as forças os abandonavam tal como a fumaça que se extingue?
Sim, meu amigo; és a consciência roedora dos teus próximos, porque não são dignos de ti. Por isso te odeiam e quereriam sugar-te o sangue.
Os teus próximos hão de ser sempre moscas venenosas. E o que é grande em ti deve precisamente torná-los mais venenosos e mais semelhantes às moscas.
Foge, meu amigo,para a tua soledade, para além onde sopre vento rijo e forte. Não é destino teu ser enxota-moscas.
Assim falava Zaratustra.
(NIETZSCHE - ASSIM FALAVA ZARATUSTRA - Livor para toda gente e para ninguém - do original "ALSO SPRACH "ZARATUSTRA" - EDIÇÕES DE OURO - TECNOPRINT GRÁFICA EDITORA - MCMLXX).
(http://www.oktiva.net/oktiva.net/1209/nota/161599)
"Entregue às Moscas", uma publicação criada, editorada e produzida pelo Grupo Acidum.
Foge, meu amigo, para tua soledade! Vejo-te aturdido pelo ruído dos grandes homens e crivado pelos ferrões dos pequenos.
Dignamente sabem calar-se contigo os bosques e os penedos. Assemelha-te de novo á tua árvore querida, a árvore de forte ramagem que escuta silenciosa, pendida para o mar.
Onde cessa a soledade principia a praça pública, onde principia praça pública começa também o ruído dos grandes cômicos e zumbido das moscas venenosas.
No mundo as melhores coisas nada vales sem alguém que as represente; o povo chama a esses grandes homens.
O mundo compreende mal o que é grande, quer dizer, o que cria; mas tem sentido para todos os representantes e cômicos das grandes coisas.
O mundo gira em torno dos inventores de valores novos; gira invisivelmente; mas em torno do mundo giram o povo e a glória: assim "anda o mundo".
O cômico tem espírito, mas pouca consciência do espírito. Crê sempre naquilo pelo qual faz crer mais energicamente - crer em si mesmo.
Amanhã tem uma fé nova, e depois de amanhã outra mais nova. Possui sentidos rápidos como o povo, e temperaturas variáveis.
Derribar: chama a isto demonstrar. Enlouquecer: chama a isto convencer. E o sangue é para ele o melhor de todos os argumentos.
Chama mentira e nada a uma verdade que só penetra em ouvidos apurados. Verdadeiramente só crê em deuses que façam muito ruído no mundo.
A praça pública está cheia de truões ensurdecedores, e o povo vangloria-se dos seus grandes homens. São para eles os senhores do momento.
O momento oprime-o e eles oprimem-te a ti, exigem-te um sim ou um não. Desgraçado! Queres colocar-te entre um pró e um contra?
Não invejes esses espíritos opressores e absolutos, ó! amante da verdade! Nunca a verdade pendeu do braço de um espírito absoluto.
Torna ao teu asilo, longe dessa gentes tumultuosa; só na praça pública assediam uma pessoa com o "sim ou não"?
As fontes profundas têm que esperar muito para saber o que caiu na sua profundidade.
Tudo o quanto é grande passa longe da praça pública e da glória. Longe da praça pública e da glória viveram sempre os inventores de valores novos.
Foge, meu amigo, para a soledade; vejo-te aqui aguilhoado por moscas venenosas.
Foge para onde sopre um vento rijo.
Foge para tua soledade. Viverás próximo demais dos pequenos mesquinhos. Foge da sua vingança invisível! Pra ti não mais que vingança.
Não levantes mais o braço contra eles!
São inumeráveis, e o teu destino não é ser enxota-moscas!
São inumeráveis esses pequeninos e mesquinhos; e altivos edifícios se têm visto destruídos por gotas de chuva e ervas ruins.
Não és uma pedra, mas já te fenderam infinitas gotas. Infinitas gotas continuarão a feder-te e a quebrar-te.
Vejo-te cansado das moscas venenosas, vejo-te arranhado e ensanguentado, e o teu orgulho nem uma só vez se quer encolerizar.
Elas desejariam o teu sangue com a maior inocência; as suas almas anêmicas reclamam sangue e picam com a maior inocência.
Mas tu, que és profundo, sentias profundamente até as pequenas feridas, e antes da cura já passeava outra vez pela tua mão o mesmo inseto venenoso.
Pareces-me altivo demais para matar esses glutões; mas repara, não venha a ser destino teu suportar toda a sua venenosa injustiça!
Também zumbem à tua roda com os seus louvores. Importunidades: eis os seus louvores. Querem estar perto da tua pele e do teu sangue.
Adulam-te como um deus ou um diabo! Choramingam diante de ti como de um deus ou de um diabo. Que importa?
São aduladores e choramingam, nada mais.
Também sucede fazerem-se amáveis contigo; mas foi sempre essa a astúcia dos covardes. É' verdade; os covardes são astutos!
Pensam muito em ti com a alma mesquinha. Suspeitam sempre de ti. Tudo o que dá muito que pensar se torna suspeito.
Castigam-te pelas tuas virtudes todas.
Só te perdoam verdadeiramente os teus erros.
Como és benévolo e justo, dizes: "Não têm culpa da pequenez da sua existência". Mas a sua alma acanhada pensa: "Toda a grande existência é culpada".
Mesmo que sejas benévolo com eles, ainda se consideram despreparados por ti e pagam o teu benefício com ações dissimulados.
O teu mudo orgulho contraria-os sempre, e alvorotam quando acertas em ser bastante modesto para ser vaidoso.
O que reconhecemos num homem infamamo-lhe também nele Livra-te, portanto, dos pequenos.
Na tua presença sentem-se pequenos, e sua baixeza arde em invisível vingança contra ti.
Não notaste como costumavam emudecer quando te aproximava deles, e como as forças os abandonavam tal como a fumaça que se extingue?
Sim, meu amigo; és a consciência roedora dos teus próximos, porque não são dignos de ti. Por isso te odeiam e quereriam sugar-te o sangue.
Os teus próximos hão de ser sempre moscas venenosas. E o que é grande em ti deve precisamente torná-los mais venenosos e mais semelhantes às moscas.
Foge, meu amigo,para a tua soledade, para além onde sopre vento rijo e forte. Não é destino teu ser enxota-moscas.
Assim falava Zaratustra.
(NIETZSCHE - ASSIM FALAVA ZARATUSTRA - Livor para toda gente e para ninguém - do original "ALSO SPRACH "ZARATUSTRA" - EDIÇÕES DE OURO - TECNOPRINT GRÁFICA EDITORA - MCMLXX).
(http://www.oktiva.net/oktiva.net/1209/nota/161599)
"Entregue às Moscas", uma publicação criada, editorada e produzida pelo Grupo Acidum.
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
O Super-homem!
Assim falava Zaratustra.
Homens:Foto: httpfarm8.static.flickr.com70506993299297_a00ce8a84e.jpg
Chegando à cidade mais próxima, enterrada nos bosques, Zaratustra encontrou uma grande multidão na praça pública, porque estava anunciando o espetáculo de um bailarino de corda.
E Zaratustra falou assim ao povo:
_ Eu vos anunciou o Super-homem!
_ O homem é superável. Que fizestes para o superar?
Até agora todos os seres têm apresentado alguma coisa superior a si mesmos; e vós, quereis o refluxo desse grande fluxo, preferis tornar ao animal, em vez de superar o homem?
Que é o macaco para o homem? Uma irrisão ou uma dolorosa vergonha. Pois é o mesmo que deve ser o homem para o Super-homem: uma irrisão ou uma dolorosa vergonha.
Percorrestes o caminho que medeia do verme ao homem, e ainda em vós resta muito do verme. Noutro tempo fostes macaco, e hoje o homem é ainda mais macaco do que todos os macacos.
Mesmo o mais sábio de todos vós não passa de uma mistura híbrida de planta e de fantasma. Acaso vos disse eu que vos torneis planta ou fantasma?
Eu anuncio-vos o Super-homem!
O Super-homem é o sentido da terra. Diga a vossa vontade: seja o Super-homem, o sentido da terra.
Enxorto-vos, meus irmãos, a permanecer fiéis à terra e a não acreditar naqueles que vos falam de esperanças supra terrestres.
São envenenadores, quer o saibam ou não.
São menosprezadores da vida, moribundos que estão por sua vez envenenados, seres de que a terra se encontra fatigada. vão-se por uma vez!
Noutros tempos, blasfemar contra Deus era a maior das blasfêmias; mas Deus morreu, e com ele morreram tais blasfêmias. Agora, o mais espantoso é blasfemar da terra, e ter em maior conta as entranhas do impenetrável do que o sentido da terra.
Noutros tempos a alma olhava o corpo com desdém, e então nada havia superior a esse desdém; queria a alma um corpo fraco, horrível, consumido de fome! Julgava deste modo libertar-se dele e da terra.
Ó! Essa mesma alma era uma alma fraca, horrível e consumida, e para ela era um deleite a crueldade!
Irmãos meus, dizei-me: que diz o vosso corpo da vossa alma? Não é a vossa alma, pobreza, imundície e conformidade lastimosa?
O homem é um rio turvo. É preciso ser um mar para, sem se toldar, receber um rio turvo.
Pois bem; eu vos anuncio o Super-homem; é ele esse mar; nele se pode abismar o vosso grande menosprezo.
Qual é a maior coisa que vos pode acontecer? Que chegue a hora do grande menosprezo, a hora em que vos enfastie a vossa própria felicidade, de igual forma que a vossa razão e a vossa virtude.
A hora em que digais: "Que importa a minha felicidade! é pobreza, imundície e conformidade lastimosa. A minha felicidade, porém, deveria justificar a minha própria existência!".
A hora em que digais: " Que importa minha razão! Anda atrás do saber como o leão atrás do alimento. A minha razão é pobreza, imundície e conformidade lastimosa!".
A hora em que digais: "Que importa a minha virtude? Ainda me não enervou. Como estou farto do meu bem e do meu mal. Tudo isso é pobreza, imundície e conformidade lastimosa!".
A hora em que digais: "Que importa a minha justiça?! Não vejo que eu seja fogo e carvão! O justo, porém, é fogo e carvão!".
A hora em digais: "Que importa a minha piedade?! Não é piedade a cruz onde se crava aquele que ama os homens? Pois a minha piedade é uma crucificação.".
Já falastes assim? Já gritastes assim? Ah! Não vos ter eu ouvido a falar assim!
Não são os vossos pecados, é a vossa parcimônia que clama ao céu! A vossa mesquinhez até no pecado, isso é que clama ao céu!
Onde está, pois, o raio que vos lamba com a sua língua? Onde está o delírio que é mister inocular-vos?
Vêde; eu anuncio-vos o Super-homem: É esse raio! É esse delírio!
Assim que Zaratustra disse isto, um da multidão exclamou: "Já ouvimos falar demasiado do que dança na corda; mostra-no-lo agora!"
E toda a gente se riu de Zaratustra.
Mas o dançarino da corda, julgando que tais palavras eram com ele, pôs-se a trabalhar.
(NIETZSCHE - ASSIM FALAVA ZARATUSTRA - Livro para toda gente e para ninguém - EDIÇÕES DE OURO, MCMLXX - DO ORIGINAL: "ALSO SPRACH ZARATHUSTRA"; p.23; 24 e 25).
Homens:Foto: httpfarm8.static.flickr.com70506993299297_a00ce8a84e.jpg
Chegando à cidade mais próxima, enterrada nos bosques, Zaratustra encontrou uma grande multidão na praça pública, porque estava anunciando o espetáculo de um bailarino de corda.
E Zaratustra falou assim ao povo:
_ Eu vos anunciou o Super-homem!
_ O homem é superável. Que fizestes para o superar?
Até agora todos os seres têm apresentado alguma coisa superior a si mesmos; e vós, quereis o refluxo desse grande fluxo, preferis tornar ao animal, em vez de superar o homem?
Que é o macaco para o homem? Uma irrisão ou uma dolorosa vergonha. Pois é o mesmo que deve ser o homem para o Super-homem: uma irrisão ou uma dolorosa vergonha.
Percorrestes o caminho que medeia do verme ao homem, e ainda em vós resta muito do verme. Noutro tempo fostes macaco, e hoje o homem é ainda mais macaco do que todos os macacos.
Mesmo o mais sábio de todos vós não passa de uma mistura híbrida de planta e de fantasma. Acaso vos disse eu que vos torneis planta ou fantasma?
Eu anuncio-vos o Super-homem!
O Super-homem é o sentido da terra. Diga a vossa vontade: seja o Super-homem, o sentido da terra.
Enxorto-vos, meus irmãos, a permanecer fiéis à terra e a não acreditar naqueles que vos falam de esperanças supra terrestres.
São envenenadores, quer o saibam ou não.
São menosprezadores da vida, moribundos que estão por sua vez envenenados, seres de que a terra se encontra fatigada. vão-se por uma vez!
Noutros tempos, blasfemar contra Deus era a maior das blasfêmias; mas Deus morreu, e com ele morreram tais blasfêmias. Agora, o mais espantoso é blasfemar da terra, e ter em maior conta as entranhas do impenetrável do que o sentido da terra.
Noutros tempos a alma olhava o corpo com desdém, e então nada havia superior a esse desdém; queria a alma um corpo fraco, horrível, consumido de fome! Julgava deste modo libertar-se dele e da terra.
Ó! Essa mesma alma era uma alma fraca, horrível e consumida, e para ela era um deleite a crueldade!
Irmãos meus, dizei-me: que diz o vosso corpo da vossa alma? Não é a vossa alma, pobreza, imundície e conformidade lastimosa?
O homem é um rio turvo. É preciso ser um mar para, sem se toldar, receber um rio turvo.
Pois bem; eu vos anuncio o Super-homem; é ele esse mar; nele se pode abismar o vosso grande menosprezo.
Qual é a maior coisa que vos pode acontecer? Que chegue a hora do grande menosprezo, a hora em que vos enfastie a vossa própria felicidade, de igual forma que a vossa razão e a vossa virtude.
A hora em que digais: "Que importa a minha felicidade! é pobreza, imundície e conformidade lastimosa. A minha felicidade, porém, deveria justificar a minha própria existência!".
A hora em que digais: " Que importa minha razão! Anda atrás do saber como o leão atrás do alimento. A minha razão é pobreza, imundície e conformidade lastimosa!".
A hora em que digais: "Que importa a minha virtude? Ainda me não enervou. Como estou farto do meu bem e do meu mal. Tudo isso é pobreza, imundície e conformidade lastimosa!".
A hora em que digais: "Que importa a minha justiça?! Não vejo que eu seja fogo e carvão! O justo, porém, é fogo e carvão!".
A hora em digais: "Que importa a minha piedade?! Não é piedade a cruz onde se crava aquele que ama os homens? Pois a minha piedade é uma crucificação.".
Já falastes assim? Já gritastes assim? Ah! Não vos ter eu ouvido a falar assim!
Não são os vossos pecados, é a vossa parcimônia que clama ao céu! A vossa mesquinhez até no pecado, isso é que clama ao céu!
Onde está, pois, o raio que vos lamba com a sua língua? Onde está o delírio que é mister inocular-vos?
Vêde; eu anuncio-vos o Super-homem: É esse raio! É esse delírio!
Assim que Zaratustra disse isto, um da multidão exclamou: "Já ouvimos falar demasiado do que dança na corda; mostra-no-lo agora!"
E toda a gente se riu de Zaratustra.
Mas o dançarino da corda, julgando que tais palavras eram com ele, pôs-se a trabalhar.
(NIETZSCHE - ASSIM FALAVA ZARATUSTRA - Livro para toda gente e para ninguém - EDIÇÕES DE OURO, MCMLXX - DO ORIGINAL: "ALSO SPRACH ZARATHUSTRA"; p.23; 24 e 25).
terça-feira, 2 de outubro de 2012
À VIDA FALTA UMA PORTA
À VIDA FALTA UMA PARTE
SERIA O LADO DE FORA
PARA QUE SE VISSE PASSAR
AO MESMO TEMPO QUE PASSA
E NO FINAL FOSSE APENAS
UM TEMPO DE QUE SE ACORDA
NÃO UM SONO SEM RESPOSTA
À VIDA FALTA UMA PORTA (F.G)
Na EDIÇÃO DE N°. 2288 da REVISTA VEJA em suas PÁGINAS AMARELAS, ENTREVISTOU FERREIRA GULLAR (http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx.
(http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/w/wp-content/uploads/2012/01/ferreira-gullar-maos.jpg&imgrefurl).
O POETA EM SEU APOCALYPSE afirmou:
"Mas é um equivoco concluir que a derrocada do socialismo seja a prova de que o capitalismo é inteiramente bom. O capitalismo é a expressão do egoismo, da voracidade humana, da ganância. O ser humano é isso, com raras exceções. O capitalismo é forte porque é instintivo. O socialismo foi um sonho maravilhoso, uma realidade inventada que tinha como objetivo criar uma sociedade melhor. O capitalismo não é uma teoria. Ele nasceu da necessidade real da sociedade e dos instintos do se humano. Por isso ele é invencível. A força que torna o capitalismo invencível vem dessa origem natural indiscutível...".
"Não acho que o capitalismo seja justo. O capitalismo é uma fatalidade, não tem saída. Ele produz desigualdade e exploração. A natureza é injusta. A justiça é uma invenção humana. Um nasce inteligente e o outro burro. Um nasce atlético, o outro aleijado. Quem quer corrigir essa injustiça somos nós. A capacidade criativa do capitalismo é fundamental para a sociedade se desenvolver, para a solução da desigualdade, porque é só a produção da riqueza que resolve isso. A função do estado é impedir que o capitalismo leve a exploração ao nível que ele quer levar".
POR FIM, o poeta conclui:
"...Os mortos veem o mundo pelos olhos dos vivos. Não dá para escrever um poema sobre qualquer coisa. O mundo aparentemente está explicado, mas não está. Viver em um mundo sem explicação alguma ia deixar todo mundo louco. Mas, nenhuma explicação explica tudo, nem poderia. Então de vez em quando o não explicado se revela, e é isso que faz nascer a poesia. Só aquilo que não se sabe pode ser poesia".
"Não se faz poesia a frio. Isso não vai acontecer comigo. Sem o espanto eu não faço. Escrever só para fazer de conta, não faço. Eu vou morrer. O poeta que tem dentro de mim também. Tudo acaba um dia. Quando o poeta dentro de mim morrer, não escrevo mais. Não vou forçar a barra. Isso não vai acontecer...".
VEJA - PÁGINAS AMARELAS DE 26 DE SETEMBRO DE 2012.
SERIA O LADO DE FORA
PARA QUE SE VISSE PASSAR
AO MESMO TEMPO QUE PASSA
E NO FINAL FOSSE APENAS
UM TEMPO DE QUE SE ACORDA
NÃO UM SONO SEM RESPOSTA
À VIDA FALTA UMA PORTA (F.G)
Na EDIÇÃO DE N°. 2288 da REVISTA VEJA em suas PÁGINAS AMARELAS, ENTREVISTOU FERREIRA GULLAR (http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx.
(http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/w/wp-content/uploads/2012/01/ferreira-gullar-maos.jpg&imgrefurl).
O POETA EM SEU APOCALYPSE afirmou:
"Mas é um equivoco concluir que a derrocada do socialismo seja a prova de que o capitalismo é inteiramente bom. O capitalismo é a expressão do egoismo, da voracidade humana, da ganância. O ser humano é isso, com raras exceções. O capitalismo é forte porque é instintivo. O socialismo foi um sonho maravilhoso, uma realidade inventada que tinha como objetivo criar uma sociedade melhor. O capitalismo não é uma teoria. Ele nasceu da necessidade real da sociedade e dos instintos do se humano. Por isso ele é invencível. A força que torna o capitalismo invencível vem dessa origem natural indiscutível...".
"Não acho que o capitalismo seja justo. O capitalismo é uma fatalidade, não tem saída. Ele produz desigualdade e exploração. A natureza é injusta. A justiça é uma invenção humana. Um nasce inteligente e o outro burro. Um nasce atlético, o outro aleijado. Quem quer corrigir essa injustiça somos nós. A capacidade criativa do capitalismo é fundamental para a sociedade se desenvolver, para a solução da desigualdade, porque é só a produção da riqueza que resolve isso. A função do estado é impedir que o capitalismo leve a exploração ao nível que ele quer levar".
POR FIM, o poeta conclui:
"...Os mortos veem o mundo pelos olhos dos vivos. Não dá para escrever um poema sobre qualquer coisa. O mundo aparentemente está explicado, mas não está. Viver em um mundo sem explicação alguma ia deixar todo mundo louco. Mas, nenhuma explicação explica tudo, nem poderia. Então de vez em quando o não explicado se revela, e é isso que faz nascer a poesia. Só aquilo que não se sabe pode ser poesia".
"Não se faz poesia a frio. Isso não vai acontecer comigo. Sem o espanto eu não faço. Escrever só para fazer de conta, não faço. Eu vou morrer. O poeta que tem dentro de mim também. Tudo acaba um dia. Quando o poeta dentro de mim morrer, não escrevo mais. Não vou forçar a barra. Isso não vai acontecer...".
VEJA - PÁGINAS AMARELAS DE 26 DE SETEMBRO DE 2012.
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
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