quarta-feira, 27 de agosto de 2014

ÁGUA, DESERTO, TRABALHO E CONVIVÊNCIA NO SEMIÁRIDO!

O contexto da convivência com o semiárido e a desertificação no Nordeste do Brasil e seu vasto território é uma questão que se desenrola por séculos sem uma solução, apesar do que, as populações asiladas nesses locais não arredam pé e enfrentam longos períodos de escassez de água e de alimentos formando uma complexa rede de sobrevivência, pertencimento ao lugar e de redes e arranjos sócio educativos.

No ano de 1999 o Brasil acolheu a COP3 – Conferência das Partes das Nações Unidas da Convenção de Combate a Desertificação, onde nasceu e se firmou um movimento da sociedade civil que abrigava uma entidade com um objetivo claro de definir os rumos de uma política com a participação popular e que enfrentasse o problema de forma regular e cotidianamente, não somente durante os períodos mais críticos ou quando as tragédias anunciadas se concretizassem com o agravamento das condições de vida das pessoas em seus territórios.

“Nós da sociedade civil, mobilizada desde o mês de agosto através da Articulação Semiárido (ASA); nós que, nos últimos meses, reunimos centenas de entidades para discutir propostas de desenvolvimento sustentável para o Semiárido; nós dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais, das Entidades Ambientalistas, das Organizações Não-Governamentais, das Igrejas Cristãs, das Agências de Cooperação Internacional, das Associações e Cooperativas, dos Movimentos de Mulheres, das Universidades; nós que vivemos e trabalhamos no Semiárido; nós que pesquisamos, apoiamos e financiamos projetos no Sertão e no Agreste nordestinos, queremos, antes de mais nada, lançar um grito que não temos sequer o direito de reprimir: QUEREMOS UMA POLÍTICA ADEQUADA AO SEMIÁRIDO!”[i]

A partir de então começou a ser delineada uma política com um programa concreto a ser desenvolvido levando-se em conta as seguintes premissas e pontos principais: conviver com as secas, orientar os investimentos, fortalecer a sociedade, incluir mulheres e jovens, cuidar dos recursos naturais e buscar meios de financiamentos adequados.
• A conservação, uso sustentável e recomposição ambiental dos recursos naturais do Semiárido.
• A quebra do monopólio de acesso à terra, água e outros meios de produção.
• O fortalecimento da agricultura familiar, como eixo central da estratégia de convivência com o Semiárido, em módulos fundiários compatíveis com as condições ambientais. Terminaram por gerar novas pressões, que contribuíram aos processos de desertificação e reforçaram as desigualdades econômicas e sociais.
• A descentralização das políticas e dos investimentos, de modo a permitir a interiorização do desenvolvimento, em prol dos municípios do semiárido.
• A priorização de investimentos em infraestrutura social (saúde, educação, saneamento, habitação, lazer), particularmente nos municípios de pequeno porte.
• Maiores investimentos em infraestrutura econômica (transporte, comunicação e energia), de modo a permitir o acesso da região aos mercados.
• Estímulos à instalação de unidades de beneficiamento da produção e empreendimentos não agrícolas.
• A regulação dos investimentos públicos e privados, com base no princípio da harmonização entre eficiência econômica e sustentabilidade ambiental e social.

DESENVOLVIMENTO

A partir de então foram desenvolvidos alguns eixos de trabalho que desembocaram nos projetos de UM MILHÃO DE CISTERNAS – P1MC e P1+2 – UMA TERRA DUAS ÁGUAS:

• A realização de um zoneamento socioambiental preciso.
• A implementação de um programa de reflorestamento.
• A criação de um Plano de Gestão das Águas para o Semiárido.
• O combate à desertificação e a divulgação de formas de convivência com o Semiárido através de campanhas de educação e mobilização ambiental.
• O incentivo à agropecuária que demonstre sustentabilidade ambiental.
• A proteção e ampliação de unidades de conservação e a recuperação de mananciais e áreas degradadas.
• A fiscalização rigorosa do desmatamento, extração de terra e areias, e do uso de agrotóxicos.

AP1MC[ii] – ASSOCIAÇÃO PROGRAMA UM MILHÃO DE CISTERNAS

A par dessas questões, no âmbito do Governo Federal foram planejadas políticas públicas e desenvolvidos programas a serem implementados em parceria com a sociedade civil através do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

A partir do Ano de 2003 deu-se inicio à construção de cisternas no domicilio das pessoas cadastradas com a meta de se construí um milhão.
No sítio da Associação Para o Semiárido – ASA na internet consta que já foram construídas, aproximadamente, mais de 499.000 (mil) cisternas.

A cisterna é uma tecnologia para captação de água de chuva[iii] com capacidade para armazenamento de 16 mil litros água, suficiente para o abastecimento humano pelo período de 08 meses de um núcleo familiar de até cinco pessoas.

O controle da liberação dos recursos é feito pela Controladoria Geral da União e a sistemática de implantação com placa de georeferenciamento e numeração o que permite o monitoramento atualizado de sua construção.

P1+2 – UMA TERRA E DUAS ÁGUAS

Outro programa desenvolvido em parceria do Governo Federal com a Associação Para o Semiárido.
“O 1 significa terra para produção. O 2 corresponde a dois tipos de água – a potável, para consumo humano, e água para produção de alimentos. As famílias atendidas pelo P1+2 são selecionadas a partir dos seguintes critérios:
• Famílias com acesso à água para consumo humano, a exemplo das cisternas do P1MC
• Mulheres chefes de família
• Famílias com crianças de 0 a 6 anos de idade
• Crianças e adolescentes frequentando a escola
• Adultos com idade igual ou superior a 65 anos
• Portadores de necessidades especiais”[iv]
Segundo a entidade, o programa, desde seu surgimento no Ano de 2007 até 2013 já beneficiou 143.275 (mil) pessoas.

“Desde que surgiu, em 2007, até dezembro de 2013, o P1+2 já construiu 21.438 mil cisternas-calçadão, 5.600 cisternas-enxurrada, 812 barragens subterrâneas, 730 tanques de pedra, 502 bombas d’água popular (BAPs), 5.465 barreiros-trincheira e 1.784 barraginhas.”

CONCLUSÃO

Importante ressaltar que para a ASA – Articulação Semiárido Brasileiro, o inicio das ações datam do Ano de 2003 e 2007. PARA O Governo Federal, datam de 2004 e 2008, período em que são feitas as avaliações sobre o desenvolvimento,  implementação e resultados da política de construção de cisternas para o consumo humano e para o trabalho de criação de animais e alimentos vegetais visando a segurança alimentar e nutricional das famílias.

Há críticas de ambos os lados com relação ao resultado. Se por um alado o Programa Um Milhão de Cisternas é considerado satisfatório, a substituição da cisterna de placas ou alvenaria por cisternas de plástico[v], já prontas e acabadas, substituindo a frente de trabalho para os pedreiros e produzidas em escala. A cisterna de plástico leva menos tempo para ser produzida e implantada, por outro lado, esquenta mais a água, causando evaporação e corre o risco de não suportar altas temperaturas por longos anos, sendo necessário sua substituição, gerando mais custos,  mais investimentos, encarecendo o programa.

As cisternas calçadão, do PI+2, são utilizadas para a produção de alimentos e para o consumo humano, muitas cisternas dependem de uma construção com acabamento e estudos de localização o que torna sua construção dependente de mão-de-obra qualificada na arte da construção civil, muitas vezes escassas nos rincões do Nordeste do Brasil.

Há ainda o dispêndio de recursos limitados que não levam em conta os problemas decorrentes do funcionamento, a capacidade pluviométrica do lugar, as características culturais no cultivo e criação de animais o que tem dificultado o desenvolvimento em longa escala ou o aproveitamento favorável em toda sua capacidade das que já foram construídas e à disposição das famílias envolvidas, selecionadas e cadastradas com o perfil necessário ao benefício.

O problema do cadastro e seleção, dependente de movimentos e articulações das pessoas, seu envolvimento com entidades e órgãos tem gerado críticas quanto à exclusão de muitas outras famílias com perfil e que não foram selecionadas, o que poderá ser sanado com mais investimentos e ampliação do programa e de seus investimentos, como, por exemplo, com o reforço na formação de mão-de-obra para construção de cisterna de membros das comunidades envolvidas, oitiva dos interessados para saber que cultivo ser desenvolvido e quais os tipos de animais a serem criados e reproduzidos, maior integração de governos e entidades da sociedade civil.

Autor: CARLOS EDUARDO PEREIRA DE ALMEIDA
@CaduAlmeida




[i] http://www.asabrasil.org.br/portal/Default.asp
[ii] http://www.asabrasil.org.br/Portal/Informacoes.asp?COD_MENU=1150
[iii] http://www.mds.gov.br/segurancaalimentar/acessoaagua/cisternas
[iv] http://www.asabrasil.org.br/Portal/Informacoes.asp?COD_MENU=1151
[v] http://www.irpaa.org/publicacoes/relatorios/9-conferencia-de-cisternas.pdf

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Câmara aprova profissão de paralegal para não aprovados no exame da OAB

Publicado por Agência Brasil e mais 3 usuários 4 dias atrás
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A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou há pouco, em caráter terminativo, um projeto de lei (PL 5.749/13) que pode permitir que mais de 5 milhões de brasileiros, formados em direito mas que não foram aprovados no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), exerçam algumas atividades que não são permitidas hoje. O texto cria a carreira dos paralegais, profissionais que poderão atuar na área jurídica sob responsabilidade de um advogado.
“O paralegal, em síntese, é alguém que, não sendo advogado, auxilia e assessora advogados, realizando funções paralelas e de grande importância para o sucesso do escritório de advocacia. Como é evidente, eles não podem exercer sozinhos atividades típicas de um advogado, como dar consultas ou assinar petições aos tribunais”, explicou o relator da matéria, Fabio Trad (PMDB-MT). A proposta ainda depende de aprovação no Senado.
Trad ainda lembrou que outros países, como os Estados Unidos, já adotam esse tipo de medida. Para os deputados da CCJ, houve consenso de que as restrições criadas pela falta de registro da OAB cria um "limbo injusto” para as pessoas que se formaram em direito e não passaram no chamado Exame de Ordem.
A proposta, que agora segue para o Senado, prevê o exercício da nova profissão por três anos para quem já se formou ou ainda vai concluir o curso. A proposta original do deputado Sergio Zveiter (PSD-RJ) contemplava apenas as pessoas que concluíssem a faculdade a partir da publicação da lei e garantiria o exercício por dois anos.
Durante a discussão sobre a proposta, o colegiado decidiu que o prazo era curto e não solucionava o problema de milhares de pessoas que ficam impedidos de atuar pela falta de aprovação da entidade representativa dos advogados.
Esperidião Amin (PP-SC) optou por não votar, mas explicou que não é contrário à proposta. “Quem é contra o exame da Ordem não pode concordar com o apaziguamento desse limbo social que foi criado no Brasil. É um exame cartorial de interesse financeiros. Para não criar problemas, vou me abster, mas deixo claro que, no futuro, nós vamos enfrentar uma discussão verdadeira entre admitir ou não o Exame de Ordem”, explicou.