A Sociedade dos Hosteótipos[i]
nasce dessa degenerescência compulsiva da burguesia em adotar teses socialistas
de forma híbrida para manter-se viva na liderança do sistema capitalista.
A instituição, a título exemplar,
que melhor remonta o inicio da Sociedade dos Hosteótipos, são as cooperativas
de toda espécie, em especial as cooperativas de crédito. Será o nicho
espetacular que abrigará nos primórdios, esses seres elegantes com aspectos
simplórios que degeneram através da cobiça e da corrupção em massa, abrigando-se
nas sociedades não governamentais e nas pregações à piedade enquanto dilaceram
o tecido social, apoderando-se de seu plasma.
O sistema econômico dos
cooperados, seja de trabalhadores, seja de empresários, seja de crédito, seja
de profissionais especializados convive desde sua inserção ou adoção, como uma
antítese às fábulas das leis de mercado, do lucro pelo capital, da mais-valia,
da especulação, etcetera.
Os cooperados são os precursores
dos hosteótipos, pois, apesar de serem de diversas classes sociais envolvidas
no modo de produção capitalista, não têm identidade comum ou objetivos
revolucionários aparentes, são híbridos, conviventes da nova ordem social e
econômica que nascia: a Sociedade dos Hosteótipos!
Vejam os senhores que ainda no
feudalismo, assim como os burgueses, os hosteótipos vivenciavam os primórdios
da nova sociedade, se desfazendo do papel de vassalos e soldados dos
protetorados. Diferentemente dos operários para o Socialismo, que, ao invés de
crescerem e se transformarem numa espécie de ‘coveiros da burguesia’ como se
ousou reduzir historicamente na teoria ‘marxista’ sua função no sistema, não
mais, dentro de uma teoria geral de revolução por sobreposição no sistema
capitalista em construção, poder-se ia dizer assim, que foram os guerreiros, as
‘hostes’, o elemento vivo à frente das batalhas pelo objeto do ter, a ‘práxis’
que efetivamente movia e move o sistema.
Os hosteótipos, de uma hora para
outra entre a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria sucumbiram em corpo e
espírito, simplesmente foram engolidos pela evolução dos dois sistemas na
organização humana geral e perderam importância como segmentos sociopolíticos.
Os hosteótipos ressurgem a partir
do ano 2001 como em uma “Odisseia no Espaço”, agora com ênfase no total
individualismo em cooperação política de interesses esparsos ou como elementos
de um exército sem comando, embalados pela mesma ‘ambição’, como neo-cooperados
em ajuntamentos urbanos, motivados pela mesma ‘ambição’ burguesa, organizados
dentro da Rede Mundial de Computadores que auto constroem em parelho às redes
sociais, mutilando a rede formal de informação, dando ênfase à violência urbana
como lugar comum da guerra de subtração e substituição, lugar tenente, que
utilizam como arma para a segregação e manutenção dos territórios contemporâneos
conquistados a duras penas e com o sangue de irmão contra irmão.
Os cooperados, então, hão de
assumir esse papel figurativo dentro do contexto teórico das lutas pela
supremacia contra os burgueses para afanar o que lhes parecia seu de direito,
como fatores da ‘composição’ espraiada que gerou uma ‘unidade passada’ da
Sociedade dos Hosteótipos’.
Não só isso. Há o fermento
tradicional das religiões antagônicas a abrir o caminho às ‘hostes urbanas’
como um contraponto à peregrinação pela salvação das almas, sem sucesso diante
do calafrio da guerra silenciosa que lhes move o Estado Nacional.
Há ainda o contexto favorável da
manipulação das drogas viciantes e o consequente lucro que proporcionam aos
seus líderes, ao mesmo tempo em que enfraquecem milhares de humanos ao derredor
do mundo, ficando à míngua da utilização na própria carnificina, teatro mais que
perfeito para ascensão lenta e silenciosa dos Hosteótipos.
[i] "Defeito
hereditário dos filósofos. - Todos os filósofos têm em si o defeito comum de
partirem do homem do presente e acreditarem chegar ao alvo por uma análise
dele. Sem querer, paira diante deles "o homem", como uma aeterner
veritas, como algo que permanece igual em todo o torvelinho, como uma
medida segura das coisas. Tudo o que o filósofo enuncia sobre o homem,
entretanto, nada mais é, no fundo, do que um testemunho sobre o homem de um
espaço de tempo muito limitado. Falta de sentido histórico é o defeito
hereditário de todos os filósofos; muitos chegam a tomar, despercebidamente, a
mais jovem das configurações do homem, tal como surgiu sob a pressão de
determinadas religiões, e até mesmo de determinados acontecimentos políticos, como
a forma firme de que se tem de partir. Não querem aprender que o
homem veio a ser, que até mesmo a faculdade de conhecimento veio a ser;
enquanto alguns deles chegam a fazer o mundo inteiro se urda a partir dessa
faculdade de conhecimento. - Ora, tudo o que é essencial no desenvolvimento
humano transcorreu em tempos primordiais, bem antes desses quatro mil anos que
conhecemos mais ou menos; nestes pode ser que o homem não se tenha alterado
muito mais. Mas o filósofo vê "instintos" no homem do presente e admite
que estes fazem parte dos fatos inalteráveis do homem e nessa medida podem
fornecer uma chave para o entendimento do mundo em geral: a teologia inteira
está edificada sobre o falar-se do homem dos últimos quatro milênios como de um
eterno, em direção ao qual todas as coisas do mundo desde seu inicio tenderiam
naturalmente. Mas tudo veio a ser; não há fatos eternos: assim como não há
verdades absolutas. - Portanto, o filosofar histórico é necessário de agora em
diante e, com ele, a virtude da modéstia." (Nietsche, Friedrich Wilhelm,
1844-1900 - OBRAS INCOMPLETAS - NOVA CULTURA, 1987; p. 48).