quinta-feira, 26 de agosto de 2010

OUTROS NORDESTINADOS NO CORAÇÃO DO BRASIL

"Eu quis amar mas tive medo

E quis salvar meu coração

Mas o amor sabe um segredo

O medo pode matar o seu coração

Água de beber

Água de beber, camará

Água de beber

Água de beber, camará"

(Vinicius de Moraes / Antonio Carlos Jobim)

Se de uma forma ou de outra somos brasileiros, enquanto povo de uma região demarcada administrativamente, nós somos o produto de nossa cultura ou de nosso espaço geográfico? Isso tem tanta ou mais importância que a delicadeza das palavras assentadas nas páginas da historiografia contemporânea diante da realidade persistente.

“A seca, o cangaço, o messianismo, as lutas de parentela pelo controle dos Estados, são os temas que fundarão a própria idéia de Nordeste, uma área de poder que começa a ser demarcada com fronteiras que servirão de trincheiras para a defesa dos privilégios ameaçados” (MUNIZ, 1999).

Ou, “O sertanejo, é antes de tudo, um forte”, como definiu Euclides da Cunha em OS SERTÕES : “O sertão, com seus ventos bíblicos, calmarias pesadas e noites frias, impressiona. Cortado por veredas e árvores retorcidas em desespero, todo ele são monótonos caminhos de caatingas e areais ressequidos. As "pueiras", lagoas mortas, de aspectos lúgubres, são o único oásis do sertanejo. A serra de Monte Santo, com seus tons azulados, é uma cortina de muralha monumental. As conformações rochosas, no ermo vazio do Bendegó, dão a ilusão de ruínas antigas. Os grandes desmoronamentos rochosos do sertão lembram "mares de pedras". Os rios salgados, quando secam, parecem um fundo de mar extinto, uma impressão acentuada pelos fenômenos ópticos do calor. Isso reforça a mítica sertaneja de que "um dia o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão".

O Brasil refunda-se com a globalização da economia. Almeja ficar entre os cinco maiores países de economia capitalista do mundo até a próxima década (XXI), o nordeste do Brasil arrasta-se para o desenvolvimento a pau-a-pique: Água e Sol. Energia e Transportes. Mão-de-obra e Tecnologia. Bem estar e Felicidade?

A partir de 1999 o litoral do Nordeste do Brasil passou a conviver com o fenômeno histórico da falta de abastecimento de água para as necessidades humanas comum no interior do sertão. Em 2006, o estudo “Atlas Nordestino” da Agência Nacional de Águas ., especificou que até 2025, 70% dos municípios com até cinco mil habitantes enfrentarão problemas de abastecimento de água. “O Semi-Árido, que ocupa uma área de 977 mil km², é caracterizado por reservas insuficientes de água em seus mananciais, temperaturas elevadas durante todo o ano, baixas amplitudes térmicas e forte insolação. Os totais pluviométricos, irregulares e inferiores a 900 mm, são normalmente superados por elevados índices de evapotranspiração, resultando em taxas negativas no balanço hídrico”.

O Governo do Presidente Lula, legitimou o que já havia sido escrito na Constituição de 1988 em seu artigo vinte e um que criou um sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos, definiu os critérios de outorga e direitos de uso da água, através do PROÁGUA/Nacional, nascido da experiência exitosa do PROÁGUA/Semi-Árido, com os atributos, compromissos e garantias do gerenciamento sustentável incorporados pela Lei 9.433/97.

A par disso, a transposição de águas do Rio São Francisco já é uma realidade, além disso, o rio abriga as hidroelétricas de Paulo Afonso I, II, III e IV, Itaparica e Moxotó, Sobradinho e Três Marias., integra áreas territoriais do Goiás, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Da Serra da Canastra até desaguar no Atlântico são aproximadamente 2.660 Km. A transposição beneficia a Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Oriental que abrange os estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas, toda ela no semi-árido.

Com as obras da Ferrovia Transnordetina e a ampliação e conclusão dos portos do SUAPE no Pernambuco e PECÉM no Ceará, o semi-árido nordestino prepara-se para dar um salto de qualidade e capacidade na produção e exportação de mercadorias, bens e serviços.

A extensão de 1.728 kilômetros de ferrovia com bitola de exportação une Missão Velha-CE, Salgueiro-PE, Petrolina-PE e Juazeiro-BA passando por Eliseu Martins no Piauí, assim interligada às outras vias ferroviárias já existentes de bitola métrica, com as hidrovias e vias rodoviárias, potencializando a capacidade de desenvolvimento da produção e exportação.

O pólo gesseiro, a gipsita do Araripe, o nosso doce mel, flores, o algodão, ouro branco nordestino para o incremento da indústria têxtil, a cana-de-açúcar para a produção do álcool, do açúcar e da rapadura, o biodiesel, os calçados, o artesanato e a água mineral do Cariri serão cargas potenciais para o incremento das exportações dos sistemas locais de produção.

A agroindústria em Petrolina e Juazeiro, o minério de ferro, a siderurgia e refino de petróleo em fase de instalação em Pernambuco e no Ceará, a carne e o farelo de soja, tudo dentro de uma logística interligada através da Ferrovia Transnordetina e a proximidade dos portos do Suape e Pecém com a Europa são alvissareiros relampejos.

Assim, ainda não é tarde prá lembrar que uma “Produção Mais Limpa” requer : controle do ciclo da água no processo produtivo, uma vez que o consumo da água pela indústria representa 19% em todo o mundo, reciclagem das águas utilizadas, pois as perdas representam 20% do total, controle total com análise do ciclo de vida dos produtos e indicadores de gerenciamento ambiental; hão de garantir um futuro, sem medo, que outros nordestinados apaixonados pelos segredos do progresso morram de sede no coração do Brasil.


i) A invenção do Nordeste e outras artes”, Durval MUNIZ de, Albuquerque Junior, 1999. 4ª Ed. Recife-PE http://www.lojacortezeditora.com.br/lancamentos/cortez.html)



ii) CUNHA, Euclides, 1902. Sertões, OS. Domínio Popular.


iii) Web site: www.ana.gov.br


iv) http://www.ecopress.org.br/eco+watch/gerenciamento+dos+recursos+hidricos+na+industria

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