segunda-feira, 27 de agosto de 2012
HÁ SEMPRE UMA PEDRA NO SAPATO
Hoje cedo, quando me dirigia para a cidade de Crato, absorto pelo áudio do veículo embalado na melodia de Adriana Calcanhoto, avistei, entre um rolamento e outro da pista, um pé de sapato.
Então me ocorreu esse verso:
NA ESTRADA UM SAPATO DESINFIADO
COMO SE HOUVERA SIDO LARGADO
NA ESTRADA UM SAPATO LARGADO
COMO SE HOUVERA SIDO ARREMESSADO
UM ARREMEDO DO PÉ
CALÁFRIOS
SUSTO
OS CARROS
PELO RETROVISOR UM BUSTO
HOMEM DESENFORMADO
SUBSSUMIDO NO SAPATO
NA ESTRADA UM HUMANO DESEMPREGADO
COMO SE HOUVERA SIDO LARGADO
SUJO E EMBRIAGADO
HUMANO ASFALTO
NA ESTRADA UM SAPATO LARGADO
DIREITO
PÉ
MOVER
SEM PODER
SEM PODER SE MOVER
COM UM PÉ SÓ CALÇADO
COMO SE HOUVERA SIDO ATROPELADO
NO CAMINHO DO TRABALHO
SEM DESCANSO NA VIDA ATABALHOADA
ESQUECIDO ESQUERDO
CANSADO DA DOENÇA E DO REMÉDIO
VOU VER!
A senha para compreensão desses versos, depois pensei, poderia estar na letra da música cantada pela Adriana Calcanhoto:
Eu não gosto do bom gosto
Eu não gosto de bom gosto
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
Eu agüento até rigores
Eu não tenho pena dos traídos
Eu hospedo infratores e banidos
Eu respeito conveniências
Eu não ligo para conchavos
Eu suporto aparências
Eu não gosto de maus tratos
Mas o que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
Eu agüento até os modernos
E seus segundos cadernos
Eu agüento até os caretas
E suas verdades perfeitas
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário